Que as empresas de tecnologia crescem muito rápido, a gente está careca de ouvir. Portanto, acompanhar o ritmo e alcançar grandes resultados depende de formas inovadoras de agir e pensar. Pode-se dizer que a inovação deve começar do topo, pela liderança. Sendo assim, o antigo modelo hierárquico tradicional pode não ser mais o mais adequado para esses novos tempos, pois normalmente, é rígido e lento. Ainda mais, para uma empresa que tem agilidade em sua essência, como é o caso da maioria das empresas de tecnologia.
Desde sua fundação, a empresa em que eu trabalho, a Thoughtworks, acredita que “duas cabeças pensam melhor e mais rápido que uma”. Na nossa empresa, a programação em par é um dos nossos segredos para o sucesso e qualidade da nossa entrega e não passa despercebida aos nossos clientes. Então, por que deveria ser ignorado pela liderança?
Liderança em pares no contexto de uma empresa ágil
A liderança em pares é bastante comum em nosso negócio. Ajuda a apoiar nossa cultura de confiança, colaboração, diversidade e inovação. Assim, quando a empresa decidiu oficializar o time de FP&A em 2018, foi natural para nós a ideia de “2 líderes na mesma caixa”. Nosso negócio está presente em 17 países, bem espalhados pelo mundo. Trabalhar em uma organização ágil com uma hierarquia plana requer presença online quase 24 horas por dia. Nossos processos são muito colaborativos, então ter um líder global de FP&A em cada lado do mundo (no nosso caso, estou no Brasil e meu colega na Austrália) se ajustou bem à empresa, a CFO global e não menos importante, a nós mesmas .
Assim como muitas outras empresas, o FP&A Corporativo foi criado inicialmente para padronizar nossos relatórios consolidados, dando visibilidade de nossos resultados e previsões aos públicos internos e externos. À medida que a equipe e a empresa evoluíram, voltamos nosso foco e energia para fornecer insights de negócios aos líderes seniores globais para impulsionar o desempenho e orientar nossa direção estratégica. Nosso grupo de liderança global é composto não apenas por líderes corporativos, mas, em sua maioria, pelos diretores-presidentes de cada país que atuamos. Como todos trabalhamos em conjunto para alcançar o desempenho proposto, a equipe de FP&A trabalha em estreita colaboração com os líderes financeiros do país coletando insights, desafiando as premissas de previsões e influenciando as melhores práticas para consolidar o cenário global. Trabalhar tão de perto com tantos stakeholders de diferentes unidades de negócios exige muito tempo para construir relacionamentos saudáveis e conhecer profundamente cada particularidade daquele país, portanto percebemos que seria mais adequado para um par liderar a equipe.
Como fazer a liderança em par funcionar
Para que a liderança de par realmente funcione, há um elemento chave para o sucesso, a confiança. Conforme escrito por Patrick Lencioni em seu livro The Five Dysfunctions of a Team, “A confiança é o primeiro e mais importante fator em um ambiente de equipe. A confiança permite que os membros da equipe estabeleçam rapport. Isso permite que as pessoas compartilhem suas vulnerabilidades e deficiências umas com as outras, sem medo.”
A falta de confiança cria politicagem, tornando difícil pedir ajuda e colaborar. Isso cria ruído desnecessário, como apontar dedos desperdiçando um tempo precioso discutindo em vez de se concentrar na solução. Outro benefício de ser aberto sobre nossas fraquezas e medos que inevitavelmente surgirão ao longo do caminho é apoiar uns aos outros em nossas jornadas de carreira. A abertura sobre essas questões fortalecerá o relacionamento e o levará a outro nível, criando um ambiente seguro para o próximo elemento importante do sucesso, não ter medo de conflito.
É natural que duas pessoas tenham opiniões e pontos de vista diferentes. Na realidade, esta é a beleza do pareamento, a diversidade de origens, opiniões e experiências. Saber disso, e entender isso é o diferencial, ao invés de brigar um contra o outro, será usado para criar soluções melhores e se tornar o super poder da dupla. É claro que haverá momentos em que a pessoa pode se sentir um pouco mais desconfortável com uma situação específica, mas se você confiar um no outro, mesmo que não concorde totalmente com o resultado, é muito provável que a pessoa se comprometa com uma solução intermediária. Por exemplo, meu colega e eu temos um estilo diferente para atingir metas globais para um modelo específico. Um prefere fazer uma abordagem Top down e o outro vê muito mais benefícios na abordagem bottom up. Certa vez, uma de nós, estava desenvolvendo as metas do plano financeiro para o próximo ano usando a abordagem bottom up e tirou alguns dias de folga. À medida que uma solicitação de mudança chegava, a outra tinha que atualizar o modelo e o fazia de uma maneira que fosse mais fácil para ela, top down. Em vez de discutir qual foi o melhor ou o que causou a mudança, nos concentramos em fornecer o que o negócio precisava, comprometidas com o resultado.
O sucesso da equipe acima do desempenho de uma única pessoa é outro segredo. Lideramos com o pensamento de “se um falha, todos falhamos”. Isso gera responsabilidade compartilhada, não apenas entre nós duas, mas também entre todos os membros da equipe. Se todos estão trabalhando por um objetivo comum, não existe “este não é o meu trabalho”. Podemos não ser capazes de fazer o trabalho tão bem quanto a outra pessoa que começou, mas se essa pessoa precisar tirar uma folga inesperada, ela estará sempre coberta. Para esta situação específica, o que nos ajuda é ter um endereço de e-mail de grupo comum, então quando a empresa precisar de nosso suporte ou estivermos enviando qualquer solicitação para o time, copiamos o e-mail do grupo e todos tomamos conhecimento do trabalho feito.
Além de todos os pontos acima, é importante ter clareza sobre os papéis e expectativas, mas com a ressalva de incentivar a colaboração extrema entre todos. Uma linha do tempo compartilhada onde todos podem ver as entregas, apoia a autonomia. As conversas constantes também são essenciais para o sucesso, sejam elas por meio de video chamadas, e-mails de acompanhamento ou bate-papos em grupo, especialmente em uma equipe altamente distribuída como a nossa para ajustar e corrigir continuamente quaisquer mal-entendidos.
Os benefícios para o negócio
Você pode estar pensando, mas o que o negócio ganhou por ter dois líderes em FP&A.
Aqui está uma pequena lista de coisas:
1- Cobertura 24/6. Como eu trabalho no Brasil e meu colega na Austrália, há apenas um dia da semana que o negócio não possui suporte, mesmo assim é o mesmo dia que ninguém trabalha.
2- Somos capazes de criar soluções personalizadas para os países à medida que trabalhamos em estreita colaboração com eles.
3- A equipe de FP&A tem sempre uma de nós para ajudar, orientar e tomar decisões para que não haja gargalos nos processos.
4- Diferentes estilos de liderança em diferentes situações, minha colega e eu complementamos os pontos fortes uma do outra, portanto, podemos escolher quem lidera cada projeto ou fluxo de trabalho com base nisso.
5- Nutrimos, orientamos e cuidamos uma da outra. Trabalhar em uma empresa global nem sempre é fácil, diferentes fusos horários, idiomas e aspectos culturais podem ser complicados e às vezes podem causar ruído.
6- Menor chance de erros ou deficiências em nossa modelagem à medida que validamos as suposições uma com a outra.
Conclusão
Em resumo, também acreditamos que existem 5 requisitos para que uma liderança pareada funcione: Respeito, confiança, abertura, pensamento em equipe e comprometimento. A liderança pareada provou ser muito eficaz em nosso negócio. Acredito que as empresas ainda precisam descobrir os benefícios da liderança compartilhada. Neste mundo de trabalho remoto e equipes multiculturais, ter mais de uma pessoa liderando e capacitando suas equipes pode ser muito benéfico, inclusive para os resultados dos negócios.
Daniele Martins
E-mail: dani@eudanimartins.com
Texto publicado originalmente em inglês na página: https://fpa-trends.com/article/leading-fpa-team-pairs
